22.9.07

O diálogo da despedida.

Visualise um ambiente cercado de verde, dois jovens próximos a uma árvore, onde as folhas caem por cima de velhas pedras, que por sua vez existem ali desde que o mundo é mundo. Abruptamente, um deles olha para o outro e inicia o seguinte diálogo:

- Senta aqui.

- Pra quê? - Perguntou o rapaz à jovem moça.

- Hoje eu quero te falar.

- Falar? Não tem mistério não, né?

- Não! É só meu coração que não me deixa amar.

- Sabe, mulher, você precisa reagir e não se entregar assim, como quem não quer nada.

- Mas não há mulher, meu bom rapaz, que goste dessa vida. Percebe que não quero viver as coisas com você?!!

- Pois... enfim, me diz cadê você, pois assim não há, sequer, um par pra dividir...

Os dois permaneceram ali, inertes, como móveis inofensivos, por alguns minutos, apenas se olhando... até o primeiro levantar-se dando as costas para o outro.

Chato isso né?!! Era inverno de 1976, numa cidadela do interior baiano, onde não nevava, não chovia e nem fazia sol. Nem sonhava que estaria nascendo alguns anos após esse encontro, não sei ao certo se devido a ele ou não, mas prefiro acreditar que sim, desse modo minha vida passa a ter um sentido mais poético: "nascido do desencontro de um encontro anterior!"

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16.9.07

Ah... esse olho!!!

- Nem fudendo!!! Gritou a jovem moça dentro do bar, enquanto corria passando por cima de tudo.Chek`s Bar não era o melhor lugar do mundo pra se tomar uma cerveja no final da noite, mas era o que estava aberto naquela rua. Não tinha muitas escolhas, então era lá que eu estava.

Logo que cheguei, peguei um cadeira e sentei-me no canto do salão. O ambiente era meio tosco, com cheiro de suor e cores mortas, mulheres feias dançando, tinha até uma caolha.

Estranhamente, essa caolha me chamou a atenção. Ela não era tão feia, a perninha capenga era um atrativo interessante, ficava em par com as penas peludas.Esperei ela terminar o show que fazia com espetinhos de churrasco e fui falar com ela. O cheiro de bacalhau com suor era irresistível, não aguentei e a convidei para tomar um drinque, eu escolhi um bom vinho, ela pediu uma dose de folhinha-podre, cachaça nobre.

Após horas de conversa fiquei sabendo que ela era orfã, havia se mudado pra cidade há alguns meses e estava à procura de um barraquinho pra morar. Falou mais, contou coisas sobre astrologia, física quântica e metafísica, alguns ensaios de filósofos e sobre o último BBB.

Aos poucos fui percebendo que ela era mulher demais pra mim... aquele único olho me causava arrepios na espinha. Paguei a nossa bebida e voltei pra casa, sozinho e sonhando com aquela caolha manca.