17.2.07

Vômito

Vomitar o almoço ou a janta é um tanto desagradável, então decidi por vomitar algumas palavras que estão me atravessando a garganta.

Não sei quanto a vocês, mas eu estou passando a odiar o carnaval. E esse sentimento se dá não só pela pouca vergonha que se aloja em todos os locais, mas também pelo efeito que já foi citado mais abaixo.

Imaginem da seguinte forma: você é um trabalhador assalariado, trabalha mais de 40 horas semanais pra conseguir pagar a metade das contas. Recebeu o 13º e não resolveu os problemas. Aquela unha encravada do dedão do pé inflamou. Sua esposa (ou namorada) te largou. A passagem de ônibus aumentou. Seu time perdeu de goleada pro rival. Você descobre que não é filho do seu pai, e sim do vizinho, que inclusive virou gay e morreu de overdose numa boate. Imaginou? Pois bem, apesar de todos esses problemas, essa é a época que nada disso importa. Tudo muda, tudo se transforma. Sua escola de samba vai pra rua tentar ser campeã, e se não for, não faz diferença também, afinal, é carnaval. Ou então hoje é o dia de “pegar” aquela loira no bloco que o abadá custou mais de 2 mil reais, mas que valeu a pena comprar, pois é o quê? Isso mesmo, carnaval.

Enquanto isso na vida real o ser humano destrói a natureza, causando enchentes e tempestades, secas e fome. Hoje mesmo recebi a notícia de que uma senhora e sua filha morreram afogadas após uma chuva intensa no interior da Bahia. Outro morreu por conta de uma explosão enquanto trabalhava. Uma menina que passou o ano todo estudando perdeu novamente em outro vestibular. Mas... e daí? É carnaval oras, vamos nos embriagar e nos prostituir.

Estou certo de que ninguém vai ler isso aqui, e os que lerão não irão gostar de nada que está aqui. Mas pra mim pouco importa, é carnaval!!! e eu tenho que trabalhar algumas horas a mais pra poder pagar a conta que tanto salário quanto o 13º não conseguiram. E quanto a você, dê mais atenção à quem está ao seu lado, agradeça o sol que brilha lá fora, e o melhor de tudo, fique feliz por estar lendo isso aqui, afinal, significa que você está vivo.

13.2.07

Anestesia

Na TV, o repórter do jornal com uma expressão séria, quase tristonha, noticia um garoto de seis anos assassinado brutalmente.

Sua vida durou menos em anos que sua morte em quilômetros.

Segundos depois, no mesmo canal, mulheres semi-nuas dançam e sorriem, enquanto uma voz alegre canta que é momento de alegria.

Já dá até para ver, quem sabe sentir, a anestesia chegando. A canção analgésica. A alegria que amansa.

Mais sete dias anestesiados pela grande festa. Atrocidades para depois.

E você aí contando com a sorte do seu orkut...

11.2.07

É foda!

- Porra, tava aqui pensando comigo mesmo, é foda velho! - Ricardo era um desses caras pensativos, quase que um filósofo. Bom pra se trocar umas idéias de vez em quando.

- O quê que é foda? - Sabia que essa pergunta iria gerar uma viagem quase que alucinógena no meu cérebro, mas vamos lá.

- Tudo véi! Tudo é foda!

- Meio vago isso Ricardo, me explica direito.

- Imagine aí que tudo na vida se baseia nisso: foda!

- Ah, tu quer falar de putaria é?

- Não porra, não é foda no sentido de foda, é foda no sentido de foda, saca?

- Puta que pariu, não, mas continua aí que eu tento.

- Veja bem, nascemos de uma foda. Vivemos uma vida foda. Nos fodemos pra conseguir uma foda. E quando menos esperamos, a foda da morte aparece e fode tudo.

Após uns minutos de total silêncio e reflexão sobre o assunto, ele soltou uma frase que deveria ir pros livros de alfabetização:

- Da foda viemos, pra foda voltaremos.

E eu, na minha total ignorância filosófica, só poderia dizer uma coisa:

- É... é foda!