21.4.07

Todo mundo usa

Era apenas mais uma tarde de trabalho, dentro da velha fábrica de sandálias. Aurélio e Pablo destilavam um copo de solvente entre uma caixa e outra de solados.

- Já pensou em sair matando geral? - Perguntou Aurélio.

- Como assim, geral? - Pablo, que é a calmaria em pessoa, fica estarrecido com a pergunta do amigo.

- É porra! Todo mundo, tipo aquele filme do cara que sai matando o dia todo.

- Véi, sei não... eu tenho medo.

- Medo? Cê não tem raiva desse povinho não? Que só faz a gente se sentir humilhado?

- Pensando por esse lado, sim. Mas como conseguiríamos as armas? O carinha do filme entra na loja e compra. Aqui nao rola dessas não.

- Ah véi, o velho jeitinho brasileiro de ajeitar as coisas. Eu tenho um pedaço de ferro e uma faca do Rambo. Você escolhe qual dos dois quer, e eu fico com o que sobrar.

- Ótimo, eu quero a faca! Eu quero a faca! - Os olhos de Pablo brilharam nessa hora. - Tem fitinha vermelha pra colocar na cabeça?

- Porra de fitinha vermelha véi, tá virando Emo é? A gente vai matar geral, e tu quer merda de fitinha vermelha.

- Nécumigonão, só vou se tiver fitinha vermelha.

- Certo, viadinho, eu pego uma 'fitinha vermelha' pra você.

- Massa!!! Que dia que vai ser isso?

- Tava pensando em amanhã, na hora de sair daqui. Matamos todos aqui, depois vamos matando o povo na rua até chegar em casa.

- Pô, amanha não vai dar não...

- Por que?

- Amanhã tem chaves no SBT.

- Porra, é mesmo, posso assistir em sua casa? Meu televisor queimou.

- Claro, leva pipoca.

- Certo!

E continuaram a trabalhar, com os rostos cobertos por um sorriso diferente. Sabiam que logo após a pipoca, chaves, e os travesseiros no chão, iriam se acertar nessa nova empreitada.

17.4.07

"Eu si melei-me todo"

Odiar alguém já é ruim. Imagine ser odiado...

Não sou o melhor dos caras, nem passo perto disso. Tenho meus milhares de defeitos, e erro pra caráleo, mas, como tudo na vida sempre atinge um patamar inimaginável, desta vez eu me superei. Não quero méritos por isso, pelo contrário, quero a escuridão e o anonimato. Não é preciso, contudo, que me crucifiquem. Saca aquelas historinhas de "o que você vai contar para seus netos"? Pois, isso eu não contarei, não mesmo.

Outro dia eu ví um muleque de seus 3 anos com vergonha, só por causa do barro que derrubou nas calças... tadinho, quando crescer e ver que esse barro continua sendo derramado de maneira mais selvagem, aí sim vai chorar de verdade.

Essa onda de sapo malvado não é boa coisa...

15.4.07

02:39 AM

Dizem que uma mente ébria fala mais do que deveria, pois bem, aumentarei essa fama.

Quem está a escrever agora não sou eu, o sapo manco, mas sim eu, o sapo manco, o novo, ou o velho, sei lá. De concreto eu sei apenas uma coisa, um texto simples não é simplesmente um texto, mas sim a simplicidade textualizada do pensar implícito no texto. O pensar somente não move o corpo, isso depende do sentir e do viver. E, nesse exato momento, eu não estou sentindo nada, consequentemente nao estou vivendo, ou sim, estou vivendo, mas não estou me movendo, então estou vivendo parado, sem sentir o movimento da vida, o movimento do viver...

Tá, sei, não sou eu, ou sou, mas poderia ser outro, ou alguém simplesmente.

Essa dúvida é que me mata...

"Deixe-me ir, preciso andar,
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar..."