8.8.07

Carinha de joelho



Todo mundo quer um filho bonito.
Não precisa ser lindo, ser um Tom Cruise da vida, mas, definitivamente, precisa ser bonito.
A cena é clássica: a mãe deitada após o parto, o pai corujando do lado de fora do quarto, e a família em peso pendurada na janela do berçário. O tio barrigudo do novo papai dá um tapa nas costas e fala:

- Mostrou que é homem!

- Claro! - responde o mais novo homem responsável do planeta.

As tias velhas, todas elas, inclusive aquela que não gosta do cara, mas está lá pra fazer comentários impróprios, vai logo dizendo:

- Aff... assim de longe ele não parece nada com você, meu sobrinho.

- É porque não abriu o olho ainda. - retruca a outra tia.

Porra, todo mundo sabe que o bebê, durante os primeiros dias pelo menos, parece um joelho. Isso, um joelho. Feio, pequeno e enrugado. Mas vai falar isso pra nova mãe. Fala...
Para a mamãe de primeira viagem, o filho é a imagem da perfeição. Nem o fato de ter nascido careca, banguelo, pelado e sujo diminuem a beleza do rebento. E Fábio Assunção passa longe. Não que eu ache esses dois cuecas que foram citados um exemplo de beleza, pois pra mim pessoa bonita é minha mãe, que me alimentou boa parte da minha vida e até hoje ainda filo a bóia na casa dela vez ou outra, mas as vedetes dizem que assim eles são, então que sejam.

Mas voltando ao pimpolho, acredito eu que a beleza dele fique apenas para os pais... assim, mesmo enquanto ele tá na barriga já se forma uma imagem, e não é a da ultrassonografia.

Acredito que um dia eu venha a sentir isso. Acho até que é isso o que eu quero, mas tenho medo. Vai que depois que o muleque cresce ele acaba ficando com a cara do Tom ou do Fábio, ou pior ainda, a cara do vizinho.

6.8.07

Perdendo os dedos


As coisas poderiam ter ocorrido de uma forma mais bonita, mais carinhosa, e porque não, mais cheirosa.
Toda história tem um começo, alguns mais gloriosos que outros. Certamente, por consequência disso, deve-se ter um meio, turbulento ou fantasioso. E, definitivamente, toda história tem um fim, que finaliza e pronto.

Estava a caminho de casa quando meu telefone tocou. Era o Carlos, me chamando pra passar no bar onde ele estava. Chegando lá, parti pras formalidades. Beijinho no rosto das mulheres, aperto de mão nos cuecas, e tudo estava indo bem até olhar para a minha direita: "Oi, meu nome é Suzana!". Droga, ela poderia ter dito: "Oi, meu nome é Diaba, vim pra te infernizar!", que caberia certinho ...

Nunca culpei o Carlos por tudo que aconteceu, até porque naquela noite as coisas caminharam bem. Um ou dois copos de cerveja e eu já estava no nível certo, sem timidez e ainda pudorado. Passei a investir com maior afinco, visando aquele sorriso lindo, que em breve me traria apenas raiva.

Sem quê nem pra quê, ela começou a perguntas coisas como "já ouviu falar de física quântica?". Puta que pariu, quem lá quer saber de física quântica às 11:00 hs da noite, depois de umas cervejas? Mas mostrei-me interessado pelo assunto, e argumentei, sempre contestando o que ela dizia. De repente ela pergunta se já assisti Matrix. Aí sim, Matrix, filme que as pessoas só comentam porque realmente entenderam, ou porque não entenderam nada. Nesse momento eu pensei logo em largar algo sobre Platão, elas não aguentam, queria entender o motivo disso, mas a verdade é que elas não aguentam e os joelhos se afastam.

Encostei um pouco mais em Suzana, deixando a minha perna tocar de leve a perna dela. Senti os pelos dos braços dela ficarem arrepiados. Era o sinal que eu precisava. Usei a tática do perfume, perguntando qual era e avançando em direção ao pescoço pra cheirar. Confesso que não senti cheiro de porra nenhuma, mas o que valia era a velha mordidinha na orelha. Foi de tiro certeiro. Em poucos momentos ela estava deitada sobre o meu braço, olhando pro teto do meu quarto, com aquele sorriso lindo dela...

E as coisas progrediram assim, até o dia de hoje, que eu não sei como será. Espero ter a mesma astúcia que tive naquela noite no bar e desdobrar a situação completamente ao meu favor. No momento, sinto como se os dedos dos pés não mais estivessem sobre minha sandália.