1.2.07

Salvem as criancinhas

"Querer é poder."

Assim dizia aquela moça quando era hora de encerrar o programa.
Sinceramente? Quem em sã consciência seria capaz de acreditar em um adulto que, vestindo trajes absurdos, passava manhãs inteiras entre dizer que a vida é uma diversão só e beijos (verdadeiros, verdadeiros...) em crianças com síndrome de down? Ah! Isso tudo antes da sua triunfal retirada em uma nave espacial com lábios enormes envolvida em fumaça (muito suspeita)!

Quem acreditaria? Somente os seres humanos mais inocentes: crianças (se bem que desconfio que a inocência morreu).

Infelizmente, sou obrigado a perceber todos os dias, em todos os lugares que as pessoas continuam a acreditar lá na moça. É só ligar a TV e ver aquele emocionado depoimento, daquela atriz daquele canal, contando lacrimosamente a sua "luta para chegar até ali e ter seu trabalho reconhecido" e que o importante é nunca desistir daquilo que realmente é desejado. Parece até que esqueram de contar à "coitadinha lutadora" sobre as vantagens de ser bonita e que para ela estar ali um dúzia de atrizes muito mais talentosas e menos belas hoje estão desempregadas. Aposto que quando criança ela assistiu ao programa daquela moça.

Quero dizer na verdade, que ficaria profundamente agradecido se em vez daquela maldita, algum adulto realmente confiável tivesse me avisado:

- Olha, garoto...sei que agora você não se preocupa com muita coisa ainda, mas vai crescer um dia e é melhor ficar preparado. Nem sempre se vence. Nem sempre querer é poder. Algumas vezes você vai lutar com o máximo de suas forças e mesmo assim vai perder a luta. Algumas vezes para alguém mais fraco que você. Mas, ainda assim, lute!

Não seria mais fácil? Mais sincero? Mais justo? Acredito que se a verdade fosse dita desde a infância, nós não estaríamos presos em uma geração onde quem não é depressivo vai ser um dia! Seja aquela garota que fica trancada no quarto, chorando depois de quatro vestibulares para medicina perdidos ou aquele profissional com um currículo invejável e incomparável, irritado porque perdeu uma vaga de emprego para aquele mesquinho e muito sabido, capaz de mentir melhor numa entrevista (isso sem contar o fator sorte!). Perder é chato, triste e todos têm consciência disso, mas não seria mais interessante se todos desde "baixinhos" fossem ensinados a lidar com as derrotas e aceitar escolher opções diferentes quando a primeira não é possível? Sim! Existe o impossível! Por mais que a moça diga que nada o é!

Quer provas? Então lá vai:
  • Atire em mim a primeira pedra aquele que acredita que, esforçando-se e exercitando muito, será capaz de escrever tão genialmente quanto Machado de Assis ou Guimarães Rosa. Talvez nem mesmo chegue ao pobre do Paulo Coelho.
  • Crucifique-me aquele que acha possível estudar, estudar e estudar até conseguir a genialidade de Einstein.
Acho que nem precisa falar mais. É claro que citei exemplos extremos, mas temos outros tantos por aí. Eu mesmo! Tentei até cansar aprender a tocar violão, até cair na real e desistir. Você talvez tenha se esforçado o máximo que poderia para conquistar aquela menina e ainda assim ela não conseguiu gostar de você. Melhor aceitar as derrotas e deleitar-se com as vitórias.

Quer saber? Quem ganha mesmo com isso é o mercado da auto-ajuda. Aposto que deve haver uma conspiração secreta entre aquela moça da nave espacial e esse mercado.

No mais...boa sorte, "baixinhos".

P.S.: aliás, por que desgraça de motivo as pessoas mentem tanto para as crianças?

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